Da mesa ao planeta:

Um novo olhar sobre o que comemos!

15 min

A alimentação sustentável tornou-se um tema central na saúde pública global, unindo saúde humana e preservação ambiental. Iniciativas como a Planetary Health Diet e a Stanford Plant-Based Initiative mostram que dietas com base vegetal podem reduzir em até 50% as emissões de gases de efeito estufa e prevenir milhões de mortes prematuras. No Brasil, políticas públicas começam a incorporar essa visão, reconhecendo que o que colocamos no prato impacta tanto nosso corpo quanto o planeta.

O que sabemos hoje sobre educação alimentar?

Segundo o mais recente relatório da EAT-Lancet (2025), adotar padrões alimentares com predominância vegetal poderia reduzir até 50% das emissões de gases de efeito estufa associadas à alimentação, além de evitar cerca de 15 milhões de mortes prematuras por ano, reforçando a ideia de que a alimentação é uma ferramenta dupla de promoção de saúde e mitigação da crise climática, se tornando indispensável para um futuro amigável com a natureza.

No Brasil, já encontramos mudanças progressivas nas políticas públicas a ponto de entender melhor essa relação entre prato, corpo, nutrição e meio ambiente.

A relação entre alimentação saudável e sustentabilidade se consolidou como um dos principais debates globais em saúde pública e nutrição. Iniciativas internacionais como a Planetary Health Diet, desenvolvida pela EAT-Lancet Commission, e a Stanford Plant-Based Initiative, da Universidade de Stanford, estão redefinindo o conceito de uma dieta equilibrada. Hoje, a saúde humana é pensada em conjunto com o impacto ambiental dos nossos hábitos alimentares.

Educação alimentar e políticas públicas no Brasil

De acordo com o Ministério da Saúde, “promover a alimentação adequada e saudável é um direito e um compromisso coletivo” (2024).

Além disso, o governo federal discute o Marco de Referência de Sistemas Alimentares e Clima para Políticas Públicas, documento que busca integrar ações de combate à fome, promoção da agricultura sustentável e mitigação das mudanças climáticas. Especialistas apontam que a transformação depende de educação alimentar e mudança cultural, repensando um sistema alimentar que vai além daquilo escolhido nos supermercados a ir para o prato, e sim, de sua rota desde o campo até a cidade, em vista de que os ultraprocessados muitas vezes ainda são a opção mais barata e viável para famílias de baixa renda.

O Guia Alimentar para a População Brasileira, referência internacional do Ministério da Saúde acerca de itens de consumo entre a população, já incorpora princípios de sustentabilidade e recomenda priorizar alimentos in natura e locais, com mínimo de processamento industrial.

Ultraprocessados e o impacto na saúde

Esses dados reforçam o papel estratégico das políticas públicas na promoção de hábitos alimentares sustentáveis e acessíveis, com foco na produção local e na redução da dependência da indústria ultraprocessada. Assim, como transformar?

Nos últimos anos, o Brasil tem avançado em iniciativas que unem tecnologia, sustentabilidade e valorização da produção local. Projetos de rastreamento digital de alimentos, como os implementados pela Embrapa e cooperativas agroecológicas, garantem maior transparência sobre a origem dos produtos e incentivam o consumo de alimentos frescos e regionais. A expansão de feiras orgânicas e circuitos curtos de comercialização, impulsionados por políticas de agricultura familiar e programas como o PAA (Programa de Aquisição de Alimentos) e o PNAE (Programa Nacional de Alimentação Escolar), fortalece economias locais e reduz o desperdício.

Além disso, startups brasileiras têm desenvolvido embalagens biodegradáveis, tecnologias de conservação natural e plataformas de conexão direta entre produtores e consumidores, promovendo um acesso mais justo e sustentável à comida de verdade, aquela que vem da terra e chega ao prato com o mínimo de interferência industrial.

Um dos grandes desafios é reduzir o consumo de alimentos ultraprocessados, alimentos de sabor, cor e aromas artificiais com poucos, ou quase nenhum ingrediente in natura, além de níveis elevados de calorias, açúcares, aditivos, entre demais químicos de preservação que, ao invés de beneficiarem o consumidor, o levam a uma breve sensação de prazer, seguida de anos de consumo desenfreado de industrializados que prejudicam a saúde. Um levantamento publicado por O Globo reforça: o excesso de ultraprocessados está ligado a mortes prematuras evitáveis, em especial por doenças cardiovasculares e metabólicas.

Impactos e perspectivas

As transformações em curso mostram que o futuro da alimentação será interdisciplinar, ou seja, conectando nutricionistas, gestores públicos, ambientalistas e economistas. A adoção de sistemas alimentares sustentáveis promete não só melhorar indicadores de saúde, mas também reduzir desigualdades sociais, fortalecer a agricultura familiar e preservar ecossistemas. Enquanto políticas públicas avançam e novas tecnologias alimentares se consolidam, a mudança definitiva continuará dependendo de um ato simples, mas poderoso: a escolha diária do consumidor, ou seja, aquilo que cada um decide colocar no prato.
DS

Daniela Stier

Redatora | Colunista MindSaúde

Daniela Stier, redatora e colunista Mindsaúde, também trabalha com escrita criativa e revisão textual.